terça-feira, 23 de novembro de 2010

POESIA GAÚCHA

Cusco Cego

                                                         Autoria: Apparicio Silva Rillo

Este cusco brasino, cara branca,
pequenote e rabão,
que o parceiro está vendo enrodilhado
aí perto do fogão,
foi mordido de cobra na paleta
quando troteava atrás de uma carreta,
cruzando um macegão.

Resultou de tal manobra
que o veneno dessa cobra
cegou meu cusco rabão!

Faz um tempão
que se deu esse tropeço...
Dava pena, no começo,
ver o cusco, atarantado,
pechar de frente e de lado,
chorando como um cristão.

Agora,
vagueia solitário pelo pátio,
perdido nessa noite sem aurora
que um dia lhe desceu sobre a retina.
Por isso,
quando a noite se embalsama de perfumes
e os pequenos e inquietos vaga-lumes
acendem lamparinas nos brejais,
eu maldigo a injustiça do destino
quenao ouço o uivo triste do brasino
chorando a lua que ele não vê mais. 


Origem: Livro "Cantigas do tempo velho", autoria de Apparicio Silva Rillo. Martins Livreiro Editor. 1978.
Publicado por Roberto Cohen em 29/05/2001.
Editado por Roberto Cohen em 05/01/2004.

Nenhum comentário:

Postar um comentário